A preparação da arepa começa com a mistura da farinha fina pré-cozida, sal e água. De seguida, é manualmente moldada no formato circular e cozinhada por poucos minutos numa chapa ou frigideira.

Porque as arepas venezuelanas estão a conquistar o mundo
créditos: AFP or licensors

Recheie a arepa com criatividade

Os recheios são um convite à criatividade. Desde sobras no frigorífico até preparos mais elaborados, como a "reina pepiada" - com frango, abacate e maionese -, a preferida de muitos venezuelanos.

"Onde há um venezuelano, há uma arepa", garante o crítico gastronómico venezuelano Ricardo Estrada Cuevas, autor do livro "Arepólogo: o pão nosso de cada dia".

"Comem todos os dias, todas as noites", diz Patrick Ribas, tradutor do livro. As arepas podem ser recheadas "com muitas coisas deliciosas, a qualquer hora (...) mas também pode ser comida sem nada, quando não se tem muito dinheiro".

Com cerca de 30 milhões de habitantes estimados na Venezuela, mais de sete milhões deixaram o país devido a uma crise que começou em 2014 e que afetou 80% da economia. As arepas foram colocadas nas malas.

Porque as arepas venezuelanas estão a conquistar o mundo
Food truck no bairro popular de Santa Rosalia, Caracas. créditos: AFP or licensors

"Uma pequena viagem ao Caribe"

A advogada Marlyn Quiroga, de 47 anos, imigrou para Nova Iorque há cinco anos. Começou por "fazer um pouco de tudo, como todos os imigrantes que chegam", mas agora dedica-se à culinária.

Quiroga garante, nas festas em Nova Iorque, preferem arepas em vez  de pão, uma vez que são "sem glúten".

Em Paris, Jean-François Lamaison vê a arepa como "uma mudança em relação aos hambúrgueres, que estão em todo o lado". Este homem de 63 anos é o designer digital do restaurante "Ajidulce - Le goût du Venezuela" (o sabor da Venezuela, em tradução livre) e promove o "Arepa Power" com um cartaz.

"Tem o mérito de ser uma panqueca de milho com recheios muito bons (...) Gosto da diversidade de sabores", diz.

O proprietário do restaurante Ajidulce, Luis Fernando Machado, engenheiro de petróleo venezuelano vindo de Punto Fijo, explica que oferecem "recheios caseiros com produtos frescos".

Luis Fernando saiu da Venezuela em 2011, quando deixou o emprego no setor petrolífero, e lançou em 2014 uma "food truck" com gastronomia venezuelana.

Impulsionado pelo sucesso, conta ainda com um pequeno restaurante no distrito 9 de Paris que emprega cerca de dez pessoas.

Porque as arepas venezuelanas estão a conquistar o mundo
Restaurante "Arepa Lady" em Nova Iorque. créditos: AFP or licensors

Paixão e amor

Machado diz que o crescente desejo por produtos sem glúten ajudou-o. "Os clientes estão interessados em ter uma refeição completa sem glúten. Muitos turistas vêm (...) porque somos bem referenciados entre os restaurantes sem glúten".

Ao lado da sua esposa, Miho, o venezuelano Raúl Márquez, de 42 anos, atrai os consumidores destacando a arepa como "comida de rua saudável e sem glúten" no seu food truck.

"A Venezuela passou por um momento difícil (...) há uma forte emigração. Trazemos conosco parte do que nos pertence. As arepas fazem parte disso. Para mim, uma arepa é a minha mãe. É comer de manhã antes de ir para a escola (...) é o que eu coloco hoje quando vendo arepas: essa paixão, esse amor que vem de casa", diz.

A barraca de rua de Lisbeth Márquez, em Caracas, prepara 1.300 refeições diárias.

Antes de ir trabalhar, a sua refeição é... uma potente arepa pabellón: feijão preto, carne desfiada, um ovo, queijo ralado e manteiga derretida em cima de uma tortilha fumegante.

"Não me canso de comer arepas. A melhor é a arepita da casa", destaca Márquez.