Os wine lovers têm um lugar diferente para conhecer. Em Vila Nova de Gaia, na Rua General Torres, nº 367, vão encontrar, além de uma das mais belas vistas para o centro histórico do Porto, um novo projeto que marca pela diferença no que toca aos vinhos.

Chama-se Tão Longe, Tão Perto e escolheu ficar do outro lado do Douro, tal como a ideia original que nasceu do outro lado do Atlântico, mais precisamente no Brasil, onde surgiu a primeira casa, em São Paulo.

Mas voltamos a Gaia onde numa tarde de verão somos recebidos por Ana Carolina Chaves e Carlos Chaves, os donos deste wine bar onde podemos experimentar vinhos que saem diretamente de torneiras ligadas a kegs (barris de plástico PET), num formato ainda pouco usado para servir esta bebida, embora já bastante utilizado no que toca à cerveja.

Nesta primeira explicação, pode até parecer um pouco complicado, mas a ideia é exatamente o contrário. Descomplicar o ato de beber vinho e promover o diálogo entre pequenos produtores e consumidores finais, através de vinhos naturais (produzidos com intervenção mínima).

Quando visitamos a Casa Tão Longe, Tão Perto Porto sentimos, de facto, este ambiente descontraído, perfeito para beber um copo de vinho entre dois dedos de boa conversa.

Um copo de vinho artesanal da torneira com vista para o Douro. Brindamos?
Um copo de vinho artesanal da torneira com vista para o Douro. Brindamos? A inauguração do espaço decorreu em junho créditos: Divulgação

De São Paulo para o Porto

A ideia inicial surgiu através do trabalho de Ariel Kogan, importador de vinhos no Brasil, e da sócia Gabriela Monteleone, sommelier. “O Ariel é meu cunhado e durante a pandemia eles [Ariel e Gabriela] começaram a fazer degustações online para promover o encontro entre produtores e consumidores, tocando na parte de sustentabilidade, vinhos e produção no Brasil”, conta Carlos.

Depois desta primeira fase, os promotores do projeto começaram a pensar num “formato alternativo para as garrafas que fosse mais sustentável e chegaram, então, a esta solução dos kegs que são estes barris de 20 a 30 litros”, explica.

A partir daí, as torneiras do Tão Longe, Tão perto começaram a ser usadas em alguns restaurantes no Brasil, surgindo, depois, o espaço físico do projeto, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. “Acabou por se transformar num ponto de encontro”, comenta Carolina.

Até que, após uma proposta profissional, Carlos, que trabalha no mercado financeiro, e Carolina, publicitária, mudaram-se para Portugal e trouxeram na bagagem esta vontade de desenvolver um projeto na área da restauração e dos vinhos.

Um copo de vinho artesanal da torneira com vista para o Douro. Brindamos?
Um copo de vinho artesanal da torneira com vista para o Douro. Brindamos? Carlos, Carolina e Ariel na Casa Tão Longe, Tão Perto Porto créditos: Divulgação

Torneira e garrafas, uma convivência pacífica

No ano passado, as torneiras Tão Longe, Tão perto no Brasil permitiram uma poupança de cerca de 4240 garrafas de vidro, o que comprova a vertente sustentável do projeto.

Se há tanta preocupação na produção sustentável na vinha, porque não existir esta mesma preocupação quando se fala de garrafas, rótulos, rolhas e transporte? “É a procura por fechar o ciclo do produto”, refere Carolina.

Os vinhos servidos a partir dos kegs são tão bons como se viessem de uma garrafa, assegura Carlos. “Não têm contacto com o oxigénio, têm uma duração mais longa e a qualidade é a mesma”, completa.

Um copo de vinho artesanal da torneira com vista para o Douro. Brindamos?
Um copo de vinho artesanal da torneira com vista para o Douro. Brindamos? O espaço conta com seis torneiras de vinho créditos: Divulgação

Contudo, com este projeto ainda inovador em Portugal, não existe a intenção de ser contra a garrafa. “O nosso projeto de torneiras não condena nem afasta as garrafas. É um formato alternativo mais fácil e que encaixa bem num perfil de vinho”, explica Carlos. “A garrafa tem o seu propósito, seus adeptos e é para trabalhar com os dois. É só mais um formato para beber vinho”, conclui.

Os vinhos tinto, branco, rosé e laranja, servidos a copo, são, na sua maioria, leves, frutados, com baixo teor alcoólico, algo que vai de encontro com as novas tendências de consumo. Há também garrafas de vinho e Vinho do Porto, não estivéssemos, literalmente, ao lado das caves.

Um palco para os pequenos produtores

Os vinhos que podem ser degustados nas torneiras do Tão Longe, Tão Perto Porto não foram engarrafados. Ou seja, são exclusivos dos kegs por diversos motivos. Por exemplo, podem ser uma experiência nova dos produtores – como é caso do vinho laranja da Aparte, disponível numa das torneiras –, ou uma forma de escoar a produção.

Tudo começa neste diálogo com os produtores e em como eles podem ter aqui um lugar para apresentarem novas propostas ou darem-se a conhecer. Ser uma “plataforma de produtores” é outro dos objetivos do projeto. “O foco é serem pequenos produtores, biológicos, que têm um cuidado especial no que estão a fazer na vinha”, salienta Carlos.

Um copo de vinho artesanal da torneira com vista para o Douro. Brindamos?
Um copo de vinho artesanal da torneira com vista para o Douro. Brindamos? O diálogo com os produtores é uma peça fundamental do projeto créditos: Divulgação

Neste momento, trabalham com produtores de várias regiões vinícolas de Portugal, contribuindo também para a divulgação dos vinhos nacionais, numa rua por onde passam diariamente centenas de turistas.

Da região dos vinhos verdes, podemos experimentar os néctares da Aphros Wine e da Tubarão. Do Douro estão disponíveis vinhos da Quinta do Javali e da Pormenor. Do Dão chega o principal parceiro do projeto, a Textura Wines. Há ainda um pét-nat de Trás-os-Montes produzido pela Menina d’Uva e o Alentejo está representado pela Cortes de Cima.

Carlos e Carolina preveem que este portfólio de produtores possa ir aumentando e evoluindo, consoante o desenvolvimento do projeto.

Em cima da mesa também está uma agenda mensal de eventos, sendo o primeiro já no dia 21 de agosto, com a apresentação do Galatic Wines, um projeto familiar de Ponte de Lima. Em setembro, o espaço recebe as sidras da Hummus Wines, marca das Caldas da Rainha, e em outubro é a vez de abrir as portas ao Tubarão Vinhos, projeto nascido na Póvoa de Varzim.

A experiência no Tão Longe, Tão Perto

Num espaço agradável, onde se destaca a parede de granito do edifício original, a vista para os telhados das caves de Vinho do Porto, para o Douro e para o centro histórico do Porto é o maior protagonista do lugar amplo e clean em que se evidenciam as garrafas dos produtores representados, muitas com rótulos originais.

Há mesas altas e um sofá com bancos, além de cadeiras de praia – uma marca do Tão Longe, Tão Perto de São Paulo que também veio para o Porto. A ideia é ser um ambiente descontraído, onde as pessoas gostem de estar, algo que, de acordo com Carlos e Carolina, já tem acontecido. “Não só locais, como turistas, estão a voltar. Podendo escolher vários lugares para tomar vinho, as pessoas escolhem voltar aqui”, conta Carlos.

Para completar a experiência, há tábuas de queijos e enchidos, azeitonas e azeite, tudo também nacional e de pequenos produtores. O pão de fermentação natural vem do outro lado do rio, da Padaria Madan.

O sentimento de comunidade fica completo com a possibilidade de levar uma garrafa de vidro para casa com um dos vinhos dos kegs. A garrafa pode ser reutilizada e é impossível não fazer uma associação ao passado histórico de Gaia e Porto. Na época em que era comum abastecer os garrafões de vidro quando os rabelos atracavam no cais, carregados de pipas de vinho.