A reserva Ruko, no oeste do Quénia, foi criada com o objetivo de reintroduzir girafas nesta área, mas também para garantir que duas comunidades rivais vivem em paz após décadas de confrontos.

A 140 quilómetros de Ruko, no vale de Rift, uma equipa da agência queniana de proteção à natureza Kenya Wildlife Service resgata girafas para transferi-las até a reserva, perto do lago Baringo.

Os animais são perseguidos a partir de uma camionete, atiram-lhes dardos tranquilizantes e depois são levadas até uma fazenda em Sergoit, onde, após um período de 10 dias de adaptação, serão levadas para Ruko. Em breve, oito girafas chegarão à reserva.

Dois grupos étnicos locais, os pokot e os ilchamus, estão em confronto há décadas na área da reserva. O atual projeto de preservação, promovido por idosos de ambas as comunidades, visa "garantir a paz", atraindo turistas para gerar rendimentos e desenvolver esta região árida.

Girafas no Quénia
Girafas no Quénia Membros do Serviço de Vida Selvagem do Quénia (KWS) conduzem um camião contendo várias girafas enquanto transeuntes observam da beira da estrada, perto de Eldoret, em 7 de julho de 2024 créditos: AFP/Luis Tato

"Há vinte anos, pokot e ilchamus enfrentavam-se devido ao roubo de gado, o que custou vidas. As pessoas foram forçadas a abandonar as suas terras. A área tornou-se num deserto e um campo de batalha para bandidos", lembra a responsável pela reserva, Rebby Sebei.

"Uma só comunidade"

Douglas Longomo, um agricultor pokot de 27 anos refere que "levou tempo" a convencer algumas pessoas sobre a necessidade de colocar fim aos conflitos para desenvolver o turismo.

"Agora vivemos como uma só comunidade, podemos circular livremente sem medo", diz, detalhando que ambos os grupos estão dispostos a cuidar das girafas "porque podemos beneficiar delas".

Desde a chegada dos primeiros mamíferos em 2011, "nunca tivemos problemas com a caça furtiva", acrescenta Rebby Sebei.

James Parkitore, um mecânico de 28 anos e membro da comunidade ilchamus, diz esperar que a reserva gere empregos. "Acho que [o conflito] ficou para trás porque agora temos interações", afirma.

A responsável pela unidade de preservação garante, entretanto, que alguns "pequenos conflitos" ainda persistem, mas, acrescenta, nada que "leve à separação das duas comunidades".

A reserva Ruko, que possui atualmente cerca de 20 girafas das espécies Rothschild e Masai, é uma forma de proteger estes animais, que nas últimas décadas sofreram um declínio na sua população devido à redução do seu habitat natural e à caça ilegal.

Para Sebei, este é apenas um começo. "A paz reina e temos que trazer mais girafas", comemora.