A peça esteve em análise pela Direção Geral do Património Cultural desde 2019, com vista à sua classificação como bem de interesse nacional. Com o caducar do processo, o Aquamanil corria o risco de ser vendido para fora do país, no leilão realizado a 27 de maio pela leiloeira Veritas.

A aquisição desta raridade pela Fundação Oriente assegura a permanência do Aquamanil em Portugal, e a possibilidade de ser apreciado pelo público. Integrado na exposição permanente Presença Portuguesa na Ásia, o Aquamanil poderá ser visitado no Museu do Oriente a partir do próximo mês de julho.

Utilizado para transportar água na purificação cerimonial das mãos, antes e depois das refeições, este objeto em prata representa uma ave fantástica com cabeça de dragão, garras e corpo coberto de escamas que, segundo os especialistas, terá sido produzido no sul da China ou no sudeste asiático, no século XVII. Também conhecido como Caquesseitão, inspira-se no imaginário das viagens quinhentistas, e os poucos exemplares conhecidos terão sido encomendados por famílias aristocráticas portuguesas.

A ligação intrínseca da peça a Portugal passa ainda pela literatura. Na Peregrinação, Fernão Mendes Pinto terá descrito um Caquesseitão, animal da Ilha de Samatra de singulares características: “do tamanho de uma grande pata, muito pretos, com costas em concha, uma ordem de espinhos ao correr do lombo, asas do feitio das do morcego e pescoço de cobra”.

A aquisição deste Aquamanil Caquesseitão “vai ao encontro de um objetivo primordial da Fundação Oriente, o de promover a herança cultural e produção artística resultante da ligação histórica dos portugueses à Ásia. A construção do acervo da Fundação Oriente tem-se norteado, desde sempre, pelos princípios da valorização, estudo e partilha de um património único no mundo”, explica Joana Fonseca, directora-adjunta do Museu do Oriente.

No Museu do Oriente, o Aquamanil vai integrar a exposição permanente Presença Portuguesa na Ásia. Constituída por cerca de 3.000 objetos, este acervo acolhe várias peças raras e excecionais, como biombos chineses e japoneses dos séculos XVII e XVIII, peças de arte namban, porcelanas brasonadas da Companhia das Índias, leques, peças decoradas a madrepérola, ou um significativo núcleo relacionado com as culturas dos povos de Timor.