Em Palpite, no sudoeste de Cuba, o jardim de Bernabé Hernández foi transformado num refúgio para o colibri-abelha-cubano, a ave mais pequena do mundo.

"Não nos cansamos. Há sempre algo novo para descobrir", diz este camponês, enquanto observa duas das aves lançarem-se sobre um pequeno bebedouro suspenso no jardim da sua casa.

Nativo de Cuba e consideradoa o mais pequeno pássaro do mundo, o colibri-abelha-cubano (Mellisuga helenae) mede entre 5 e 6 centímetros, e o seu peso varia entre 1,6 e 2,5 gramas.

Os cubanos chamam-no de "zunzuncito", diminutivo de zunzún, nome genérico que dão à espécie, e uma onomatopeia derivada do zumbido produzido pelas suas asas quando voa e mesmo quando está em suspensão a recolher o néctar das flores. Essa oscilação faz com que possa bater as asas 100 vezes por segundo.

No jardim sombreado, onde florescem mangueiras, goiabeiras e abacateiros, meia dúzia destes colibris esvoaçam a toda velocidade diante dos olhos de alguns turistas, que correm para tirar fotos deles.

Hernández e a sua esposa, Juana Matos, não tinham intenção de transformar o seu jardim neste observatório, mas acabaram por batizar a sua casa de “A Casa dos Colibris”.

Tudo começou há mais de 20 anos, quando Hernández teve que começar do zero, depois do poderoso furacão Michelle destruir a sua casa, localizada numa área do Pântano Zapata, o maior pântano do Caribe.

O governo cedeu-lhe então terrenos e materiais para construir uma nova casa na localidade de Palpite, nos limites da zona húmida.

Colibri-abelha-cubano
Colibri-abelha-cubano créditos: AFP/Yamil Lage
Colibri-abelha-cubano
Colibri-abelha-cubano Bernabe Hernández alimenta um colibri-abelha-cubano com uma mistura de água e açúcar no seu quintal, que batizou como a Casa dos Colibris, em 5 de julho de 2024 créditos: AFP/Yamil Lage

“Mudei-me para cá, mas não havia pássaros”, diz Hernández. “Plantei um ponasi [uma planta tropical] para dar sombra à casa e atraiu alguns pássaros”, acrescenta, referindo-se a um arbusto silvestre (Hamelia patens) cujo fruto tem fama de atrair as pequenas aves.

Inseto por engano

O que Hernández não sabia é que o 'zunzuncito', também conhecido na ilha como colibri, é fascinado pelo néctar das flores vermelhas do ponasi. Atraídos pelo sumo açucarado, não tardou a surgirem os primeiros gulosos.

“Quando vi um 'zunzuncito' pela primeira vez, pensei que fosse um inseto”, conta Hernández. Foi então que decidiu plantar mais dos arbustos que cativam o colibri, que têm a particularidade de florescer durante todo o ano.

Além do zunzún, no jardim de Hernández existe outra espécie de colibri um pouco maior (10 cm) e mais comum, a esmeralda Ricord (Riccordia ricordii), que também vive noutras ilhas vizinhas do Caribe.

Graças aos conselhos dos guias do Parque Natural Ciénaga de Zapata, famoso pela sua notável diversidade biológica e quantidade de espécies de aves (175, migratórias e endémicas), o casal aprendeu a preparar a mistura precisa de água e açúcar que colocam nos bebedouros e limpá-los cuidadosamente para evitar fungos.

A Casa dos Colibris
A Casa dos Colibris Turistas visitam a Casa dos Colibris, em 5 de julho de 2024 créditos: AFP/Yamil Lage

[O jardim] “dá proteção à ave. Durante a reprodução, a fêmea recolhe o alimento dos filhotes com mais facilidade”, explica o guia.

A Mellisuga helenae é classificada como espécie "quase ameaçada", segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que estima a sua população em Cuba entre 22.000 e 66.000 indivíduos.

Martínez lembra que quando o furacão Michelle atingiu a região em 2001, “o 'zunzuncito' desapareceu. Não havia flores. Muitos morreram”.

Embora seja impossível para Hernández saber quantos colibris visitam o seu jardim diariamente, já que o seu movimento energético impossibilita contá-los, o camponês afirma que os vê durante todo o ano. “É uma alegria saber que temos o menor pássaro do mundo”, diz entusiasmado.