Alexandra Kulikova estava acostumada a ouvir diversos idiomas quando caminhava pelas ruas de São Petersburgo, a icónica cidade fundada pelo czar Pedro, o Grande, conhecida como a "janela para o Ocidente" da Rússia, mas desde a ofensiva russa na Ucrânia, a cidade já não é a mesma.

"Ouvia-se inglês, francês ou italiano por todo o lado (...) e estávamos sempre lotados", diz esta coproprietária de uma rede de apartamentos para alugar na cidade.

A ofensiva militar do Kremlin contra a Ucrânia e a subsequente onda de sanções isolou a Rússia da maioria dos potenciais turistas ocidentais, afetando gravemente a indústria do turismo no país.

Agora a Rússia vira-se para os visitantes originários da Ásia e do Oriente Médio.

"Vejo um grande número de grupos chineses, turistas árabes e indianos que viajam com as suas famílias. Mas devem ser muito ricos porque ficam em hotéis de luxo e não em apartamentos", diz Kulikova.

Esta dinâmica tem prejudicado o seu negócio, mesmo com apartamentos anteriormente muito procurados, com vistas deslumbrantes para a Catedral de Santo Isaac.

Com o clima político cada vez mais hostil em relação ao Ocidente e os ocidentais, viajar até à Rússia tornou-se ainda mais complicado pelas sanções e dificuldades logísticas.

Os voos diretos da União Europeia, do Reino Unido e dos Estados Unidos foram suspensos e até mesmo os cartões de crédito Visa e Mastercard não podem ser utilizados na Rússia.

Perante este cenário, houve uma "reorganização do turismo para o Oriente", afirmou Sergei Kalinin, diretor de uma associação de guias e intérpretes em São Petersburgo.

No primeiro trimestre de 2024, quase metade dos turistas estrangeiros que visitaram a Rússia era procedente da China, cerca de 99 mil de um total de 218 mil.

Quase 8.400 chegaram da Alemanha, um terço dos que visitaram o país em 2019, segundo a Associação Russa de Operadores Turísticos.

"Muito em comum"

A transformação é radical na ex-capital imperial, conhecida pelos seus palácios imponentes e canais pitorescos.

"A Rússia é um país interessante e agora é mais fácil vir. Existem vistos eletrónicos (...) e os nossos países têm muito em comum", disse à AFP o turista chinês Liu Yitin, enquanto esperava um comboio na estação ferroviária de São Petersburgo.

A China tornou-se o principal aliado político e económico da Rússia no contexto da sua ofensiva contra a Ucrânia. Os presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping reúnem-se frequentemente e cumprimentam-se como "velhos amigos".

Diante do isolamento ocidental, as autoridades russas têm procurado facilitar as viagens provenientes de países considerados "amigáveis".

Moscovo está a considerar permitir viagens sem visto para cidadãos de países do Médio Oriente e do Sudeste Asiático. Também quer aumentar os voos diretos para a China e o Irão, segundo o Ministério da Economia russo.

A cidade de São Petersburgo também aumentou a sua autopromoção. Em maio, as autoridades municipais foram a feiras em Pequim, Xangai e Chengdu, após participarem em eventos semelhantes na Índia.

A ideia é participar em 16 grandes feiras comerciais na Ásia, no Médio Oriente e nos ex-países soviéticos ainda este ano, segundo a autarquia da cidade.

Apesar do esforço, muitos operadores afirmam que a Rússia ainda enfrenta uma grave falta de turistas.

"Não é mais como costumava ser. Mesmo com os chineses não há um grande fluxo turístico, não se compara ao que era antes da covid-19", disse a guia turística Maria Khilkova.

Apenas 6% das quase 9 milhões de pessoas que visitaram São Petersburgo em 2023 eram estrangeiras. Antes da pandemia este número rondava os 50%.

"Não estou a sentir-me muito otimista. Serão necessários pelo menos cinco anos para que tudo se recupere", estima Khilkova.