![Quando o nosso vizinho é um vulcão: entre o](/assets/img/blank.png)
Reportagem: Sofia Miselem / AFP
"Não nos dá medo", garante Eufemia entre mugidos, cacarejos e gritos de vendedores durante uma feira de animais perto do vulcão Popocatépetl, que decorre quase indiferente às atividades intensas deste colosso no centro do México.
A tranquilidade não é fruto da imprudência. Desde 1994, quando "Don Goyo" voltou à atividade depois de quase sete décadas adormecido, Eufemia aprendeu a conviver com explosões, fumarolas, pequenos tremores e precipitação de cinzas em períodos distintos.
"Já estamos acostumados desde 1994, já não nos dá medo", disse a mulher sorridente de 65 anos no município de San Andrés Calpan, a cerca de 25 km da "montanha que lança fumo" (Popocatépetl em idioma náuatle).
Eufemia tenta vender uma dúzia de aves de todos os tamanhos, inclusive pavões, durante um "tianguis", o mercado itinerante que é montado todas as quintas-feiras nesta localidade do estado de Puebla.
![Eufemia Eufemia](/assets/img/blank.png)
Junto com as suas aves, outros comerciantes oferecem cavalos, ovelhas e vacas, além de alimentos, comida, roupa, forragem e suprimentos para o campo nesta feira que reproduz um modelo de comércio pré-hispânico.
Ao fundo, e por alguns instantes, as nuvens permitem observar o imponente "Don Goyo" com uma cortina de fumo, que o vento bondoso desvia para o outro extremo do enorme terreno onde está a feira.
Nas últimas horas, o vulcão registou 19 exalações e também tremores, sinal sísmico associado ao movimento de fluídos no interior da câmara magmática. Em alguns povoados, a precipitação de cinzas diminuiu.
Por causa dele, mantém-se o alerta "amarelo fase 3", que passou a vigorar no domingo passado após uma intensa chuva de cinzas que obrigou a suspender, durante algumas horas, as operações nos dois aeroportos que servem à Cidade do México.
Trata-se do nível imediatamente anterior ao vermelho, de alta periculosidade, que obrigaria a realizar evacuações. Mas para Eufemia, não passa pela cabeça deixar a sua casa.
"Temos os nossos animais, e se sairmos, os ladrões aproveitam-se", justifica em conversa com a AFP.
De facto, nem ela nem a família saíram no ano 2000, quando se ordenou que cerca de 50.000 pessoas deixassem as suas casas nas comunidades próximas do vulcão.
![Vulcão Popocatépetl Vulcão Popocatépetl](/assets/img/blank.png)
Assustados
A multidão que comparece ao mercado permanece indiferente à atividade do colosso, mais preocupada em acomodar os animais ou em fechar uma banca.
No entanto, a poucos metros do posto de Eufemia, Domingo de los Santos, de 45 anos, manifesta-se com prudência enquanto luta para convencer um casal interessado em alguns porcos que transporta em dois camiões.
"Ok, dê-me 5.000 pesos de boa vontade para que eu possa comer taco", diz aos clientes, que respondem que vão pensar e talvez voltem mais tarde.
"Sim, o vulcão preocupa, as pessoas não querem sair, estão assustadas, temerosas, e as vendas caíram. Hoje vendi apenas três porcos. Imagine! Não tem muita gente", afirma De los Santos, resignado.
![Domingo de los Santos Domingo de los Santos](/assets/img/blank.png)
Ao contrário de muitos vizinhos da montanha que não querem nem pensar numa evacuação, este homem já tem um plano em caso de alerta vermelho.
"Infelizmente, os animais ficariam. Agora o importante são os humanos, os familiares. Se há alguma contingência, nada além de pegar num saco e vamos embora", afirma, ao explicar que já separou os documentos mais importantes.
Enquanto isso, em Santiago Xalitzintla, a comunidade de aproximadamente 2.000 habitantes mais próxima do vulcão, havia pouca gente nas ruas e a cinza dava trégua. Apesar disso, as autoridades estavam do lado de fora do palácio municipal, a distribuir máscaras e a acompanhar os sinais vitais das pessoas.
![Santiago Xalitzintla Santiago Xalitzintla](/assets/img/blank.png)
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