![Cabo Espichel, o lugar onde a terra mergulha no Atlântico e o vento bate forte](/assets/img/blank.png)
Apesar de degradado, o Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel, também conhecido como de Nossa Senhora da Pedra Mua, continua a ser um local impressionante. Recentemente foi aberto um concurso que prevê a recuperação deste património com a construção de um hotel ou outro projeto com vocação turística, mas até lá o Santuário mantém uma aura fantasmagórica, com as suas arcadas brancas abandonadas, portas emparedadas e uma grande cruz na entrada do recinto de terra batida.
É um notável conjunto arquitetónico que foi dedicado a um culto que remonta a 1410, ano em que, segundo a lenda, dois velhos — um da Caparica, outro de Alcabideche — tiveram um sonho idêntico, durante o qual foram avisados pelo Céu de que se encontrava na extremidade do Cabo Espichel, uma imagem de Nossa Senhora.
No local onde foi descoberta a imagem, construiu-se um templo primitivo, que até ao início do século XVIII foi circundado por casas que abrigavam os romeiros que ali se dirigiam em peregrinação para venerar Nossa Senhora.
A atual igreja, com desenho do arquiteto João Antunes, foi edificada de costas para o mar, por ordem real, entre 1701 e 1707. A partir de 1715, a grande afluência de peregrinos ao Cabo obrigou a que se construíssem duas alas de hospedarias com sobrados e lojas, as quais foram ampliadas entre 1745 e 1760. Mais tarde, construiu-se o sistema de abastecimento que inclui o aqueduto e a casa da água e, posteriormente, a Casa da Ópera, da qual hoje só restam ruínas.
No interior, podem encontrar-se alguns testemunhos artísticos de valor, nomeadamente o retábulo do altar-mor em estilo barroco nacional que guarda a imagem da Senhora do Cabo, o teto com pintura em perspetiva (executada em 1740 por Lourenço da Cunha) e as pinturas quinhentistas da autoria do Mestre da Lourinhã, que representam São Tiago e Santo António e podem ser vistas na sacristia.
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A alguns metros do Santuário, sobre as escarpas, ainda existe a pequena Ermida da Memória, datada do século XV e construída no preciso local da aparição. O seu interior está revestido por painéis de azulejos do século XVIII que contam a lenda da Senhora do Cabo.
No exterior, a beleza fica toda a cargo da Mãe Natureza. As vistas são de tirar a respiração!
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Um pouco mais afastado, à esquerda do Santuário, fica o imponente Farol do Cabo Espichel.
Foi construído em 1790 e mantém-se em funcionamento até hoje, iluminando a costa com o seu poderoso feixe de luz que se estende por quase 50 quilómetros
A sua abertura ao público, por iniciativa da Marinha Portuguesa, ocorria uma vez por semana e incluía uma visita guiada. Atualmente, por conta da pandemia, não sei se isto se mantém. Mas admirar a paisagem do alto da torre de 32 metros é, por si só, uma experiência que vale os 135 degraus de pedra e 15 de ferro que é preciso subir para lá chegar.
Dentro da torre é também possível observar as máquinas que funcionavam a vapor de petróleo, e que em 1883 substituíram os candeeiros alimentados a azeite, e o antigo sistema de relojoaria, que em caso de avaria dos motores está pronto para entrar em ação.
![Cabo Espichel Cabo Espichel](/assets/img/blank.png)
Outro motivo de interesse no Cabo Espichel são as pegadas de dinossauros que se podem vislumbrar na jazida da Pedra da Mua.
O caminho que permite observar estes vestígios começa junto ao Santuário de Nossa Senhora do Cabo e segue por uma estrada de terra batida até ao cimo do monte de onde os visitantes conseguem vislumbrar a jazida. É aqui que as pistas de dinossauros são bem visíveis, mesmo ao longe, nas quase verticais lajes rochosas existentes entre o Cabo Espichel e a baía dos Lagosteiros.
Assim é o Cabo Espichel, mais um pedacinho encantado deste nosso Portugal.
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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