![Salvem a Marafona de Monsanto!](/assets/img/blank.png)
A Marafona é uma boneca de trapos, sem olhos, nariz, boca e ouvidos (para não ver nem contar nada a ninguém, do que se passa entre o casal) e, no dia de núpcias, fica debaixo da cama dos noivos.
A própria boneca que incentiva a fertilidade também corre o risco de envelhecimento.
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Não é a única boneca em Portugal com a mesma finalidade, há também no Alentejo e no Norte de Portugal mas, em Monsanto, faz parte da iconografia da aldeia.
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Segundo a dona da loja de artesanato, Casa Mais Portuguesa, a artesã Maria Alice Gabriel, foi a sua avó, moleira, que no início do século XX aproveitava o tempo livre para fazer as marafonas a partir de uma cruz.
Maria Alice Gabriel explica ainda que é fácil fazer uma marafona, a partir de uma cruz e diz que já lhe agradeceram por ter funcionado a "deusa da fertilidade".
A boneca passou a fazer parte da tradição e é um dos souvenirs de Monsanto.
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Algumas mulheres, com alguma idade, estavam sentadas às portas, na rua que vai dar ao castelo, a vender as marafonas.
Só que estas mulheres vão envelhecendo e há cada vez menos gente a fazer as marafonas. A arte corre o risco de morrer.
É verdade que há quem tenha aprendido no Centro de Artes e Ofícios de Idanha-a-Nova. Mas não é em Monsanto, e os daqui consideram que a boneca é tradição da aldeia.
Recentemente duas jovens de Monsanto aprenderam a fazer e são elas a esperança de dar continuidade às bonecas da fertilidade de que as exigências demográficas bem precisam. E Monsanto sofre do mesmo problema.
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Das 3846 pessoas registadas em Monsanto no recenseamento 1950, no último Censos, de 2011, o número de habitantes tinha caído para 828.
A boa notícia é que, nos últimos anos, alguns estrangeiros têm vindo a instalar-se na aldeia.
Muitos outros estrangeiros passam por aqui todos os dias, maravilhados como o homem se adaptou à força da natureza.
O frio do granito, a força das toneladas de pedras suspensas nas encostas, que por vezes nem se percebe como estão fixas, e o dia-a-dia dos habitantes fazem de Monsanto um lugar singular.
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Nem todos conseguem subir ao Castelo construído no séc. XII, que deve ter dado imenso trabalho com o transporte das pedras, ribanceira acima, para o cabeço a 758 metros de altura! Pedras para a muralha, a igreja...
A fortificação teve várias estruturas e usos. Em 1813, um raio caiu num paiol, provocou uma explosão e destruiu parte das muralhas.
A partir daí, o Castelo deixou de ter relevância.
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Quem viveu na aldeia também não teve vida fácil.
A região é pobre em recursos naturais, a agricultura de subsistência pouco dava para viver e a ausência de estruturas e políticas públicas tornou ainda mais difícil a sobrevivência desta gente raiana, forçada à pobreza e à austeridade.
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Fernando Namora, que exerceu aqui medicina dois anos, entre 1944 e 1946 (e onde dizia que Cada manhã em Monsanto nasce o mundo. Lá me apercebi que a sombra é azul), retratou a vida das pessoas com um olhar frio e neo-realista na obra Minas de San Francisco.
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Alguns anos depois da passagem de Namora por Monsanto, ocorreu na região uma vaga de emigração. Muitos foram para o litoral, em particular para Lisboa.
Com o envelhecimento e a desertificação, muitas casas foram abandonadas e só nos últimos anos se verifica alguma renovação, sobretudo devido ao turismo.
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Os lugares religiosos são alguns dos pontos mais visitados.
Logo à chegada, a Igreja Matriz, imponente, ao cimo de uma escadaria também de granito.
A porta de madeira e a rosácea dão algum relevo à frontaria que está virada para a Torre do Relógio ou de Lucano.
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No alto da torre está uma réplica do galo de prata.
É o símbolo da conquista do estatuto de Aldeia mais Portuguesa de Portugal, um concurso promovido pelo antigo regime, pelo Serviço Nacional de Informação, em 1938, que procurou sempre fortalecer a ideia do camponês pobre, mas honesto e puro.
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Muito próximo desta torre há um miradouro fantástico, com vista para toda a planície em que se distingue o castelo de Penamacor e as serras da Gardunha e da Estrela.
Também daqui consegue-se ter uma boa visão da Capela de S. Pedro de Vir-a-Corça, que fica no sopé da montanha.
Próximo da torre situa-se igualmente o largo do Pelourinho, onde está a igreja da Misericórdia.
No meio do povoado há algumas casas senhoriais, como um solar que tem defronte o chafariz Mono.
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O que torna Monsanto mais espetacular é a “convivência” entre o que foi construído e o que a natureza criou.
Penedos enormes que funcionam como paredes ou telhados.
Uma massa gigantesca de granito, que irrompe no meio de um telhado ou que funciona como cobertura de uma gruta.
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No caminho para as muralhas, mais ou menos a meio, há uma gruta e, pouco depois, um miradouro que permite ver algumas destas construções.
Há também uma vista espetacular para a barragem de Idanha-a-Nova.
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Além da povoação, pode-se ainda visitar a área envolvente. Há rotas em redor, pelas encostas e, em alguns casos, cenários únicos para fotografia.
Uma outra possibilidade é visitar a Capela de S. Pedro de Vir-à-Corça
Além das Marafonas e dos Galos de Prata, um outro ícone de Monsanto é o Adufe, um instrumento musical com forte implantação nesta região.
Monsanto tem vários restaurantes e alojamento local.
Salvem a Marafona! faz parte do podcast semanal da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Salvem a Marafona!, pode ouvir aqui.
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