Classificado Monumento Nacional, o local situado no vale do Lapedo, na freguesia de Santa Eufémia, a dez quilómetros de Leiria, é conhecido por ali ter sido desenterrada há 25 anos a “Criança do Lapedo”, o primeiro esqueleto preservado do Paleolítico Superior em Portugal e, desde 2021, Tesouro Nacional.

A descoberta marcou a paleoantropologia internacional, pelas características relativas a 'Neandertal' e 'homo sapiens' que apresenta o achado, que se crê ter sido sepultado há 29 mil anos.

As escavações arqueológicas realizadas no contexto do achado detetaram milhares de ossos – inteiros, mas, sobretudo, fragmentos - que ajudam a perceber como era a vida e a paisagem naquele território durante os cerca de dez mil anos em que o abrigo esteve ocupado.

A informação foi estudada e interpretada para ser apresentada a partir de sábado na exposição "Ossos do nosso ofício, animais da nossa história. O Lagar Velho contado pelos seus bichos" no Museu de Leiria, no Centro de Interpretação Ambiental de Leiria e na avenida Heróis de Angola, no centro da cidade.

“Desta vez demos voz aos animais”, descreve a equipa responsável pela exposição, em resposta à agência Lusa.

A iniciativa do Museu de Leiria, Centro de Interpretação Ambiental (CIA), Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho e do Laboratório de Arqueociências (LARC) resulta da “enorme diversidade de espécies” identificadas, contemplando “todas as classes de vertebrados - mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis”.

Os cerca de seis mil ossos encontrados testemunham a presença de auroques - bois selvagens -, leopardos, abutres quebra-ossos, cavalos selvagens, além de ratos, esquilos, coelhos, peixes e muitos outros.

“A partir dos seus ossos foi possível conhecer o que comiam os nossos antepassados do Paleolítico Superior, mas também as espécies que frequentaram aquele abrigo, dando-nos uma ideia das paisagens que caracterizavam o vale do Lapedo. Considerou-se que esta coleção, tão fabulosa, devia ser do conhecimento do público”, explica a organização.

Neste trabalho recorda-se a presença na região de Leiria de várias espécies que “já desapareceram do nosso território, em parte por responsabilidade da espécie humana, que destruiu os seus habitats”.

Pretende-se, por isso, que seja “um exercício pedagógico e, simultaneamente, um alerta para as circunstâncias atuais do planeta. A natureza é o nosso maior abrigo e amigo”.

Comissariada por Ana Cristina Araújo e Ana Costa, investigadoras do LARC, "Ossos do nosso ofício, animais da nossa história. O Lagar Velho contado pelos seus bichos" desenvolve-se em três núcleos:

Junto à praça de táxis da avenida Heróis de Angola, no centro de Leiria, onde é inaugurada no sábado, às 15:30, são apresentadas ilustrações de grande dimensão, da autoria de Nuno Faria, que desenhou os animais que habitaram o vale do Lapedo.

No claustro do Museu de Leiria são reveladas ilustrações científicas, fotografias de ossos e outros vestígios faunísticos; e o CIA acolhe uma ilustração da paisagem, que recria o tempo da ocupação primitiva da zona.

No dia da inauguração, às 17:00, a equipa de investigação do Abrigo do Lagar Velho, constituída por Ana Cristina Araújo, Ana Costa, Joan Daura e Montserrat Sanz, promove uma conversa sobre as paisagens pré-históricas.

A exposição está integrada no programa das comemorações dos 25 anos da descoberta do Abrigo do Lagar Velho e da “Criança do Lapedo”.